quinta-feira, 12 de setembro de 2013

vizinhanças antigas

Lisboa, 13 de junho de 2007

já percebi que eu e o vizinho da frente escolhemos a mesma hora para fumar um cigarro à janela. do meu lado, é a da cozinha. a essa altura do dia, já estou sem lentes e, nesse momento concreto, não admito presenças de corpos de óculos na cara. percebo apenas uma presença que está de manga caviada, mas não lhe conheço o rosto. sei que há ali uma combustão na ponta vermelha do cigarro. a singularidade do rosto do homem mistura-se com a percepção que tenho do fumo. são uns cinco minutos de recolhimento, em que uma definição corporal humana nítida seria muito intrusiva. na rua, não o identifico. teriam os impressionistas buscado aquela inspiração de enevoado colorido nalgum grau de miopia? separa-nos a rua, mas o lampião que ilumina aquela fatia de passeio é comum. o topo da lâmpada, com uma cobertura metálica, é a plataforma de eleição dos pombos para os seus rituais de acasalamento.

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