sábado, 28 de setembro de 2013


Sejam longas as horas do fim de semana para todos os que aqui passarem. Julgavam que era um post sobre as autárquicas, não? CARPE DIEM!

sexta-feira, 27 de setembro de 2013


Os amigos tornam-nos herdeiros

Alguns amigos tornam-nos herdeiros de um lugar, outros de uma morada, outros de uma razão pela qual viver. Certos amigos deixam-nos o mapa depois da viagem, ou o barco em qualquer enseada, oculto ainda na folhagem, ou o azul desamparado e irresistível que lhes serviu de motivo para a demanda. Há amigos que iniciam-nos na decifração do fogo, na escuta dos silêncios da terra, no entendimento de nós próprios. Há amigos que nos conduzem ao centro de bosques, à geografia de cidades, ao segredo que ilumina a penumbra do templo, à bondade de Deus.

Pelos amigos descobrimos a vastidão de um mundo interior, intacto e errante como uma paisagem do fundo dos mares, e, desse modo também, primordial e delicado, escondido e sublime. Dos amigos recebemos o socorro, quando nos faltam palavras (ou outra coisa que não sabemos bem, mas que talvez nem sejam palavras) para medir em nós a altura da alegria ou da dor. O olhar deles é uma dádiva confiada à vida; é alento, sopro, energia pura; e tem para nós um inesgotável poder reparador.

Os amigos sustentam connosco, e a nosso lado, o duro e ligeiríssimo mistério da existência. Mesmo quando os dias empalidecem ou se estilhaçam, a amizade tem a capacidade de religar, a partir do fundo, as pontas decepadas e dispersas, os opostos indizíveis da alma: a noite e o dia, a dor e o riso, a ação e a contemplação, a vida e a morte.

Porventura o mais fecundo a perguntar, quando os nossos amigos morrem, não é: «porque é que eles partiram?» O que levaremos o resto da vida e responder, sempre em total gratidão, é antes: «porque é que eles vieram?»

José Tolentino Mendonça
Nenhum caminho será longo -para uma teologia da amizade

sábado, 21 de setembro de 2013

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

erro é património
culpa é suspensório

bauzadas


 
 
 
as noites de sexta descem com um impulso retrovisor, que não deixa dormir nem prestar atenção a nada mais para além dos ecos que foram habitando o coração do ouvido. BOM fim de semana!

quarta-feira, 18 de setembro de 2013


horário

A questão é que há estados que procuramos que também têm caprichos, sobretudo em relação ao seu momento de chegada. Ou o capricho será nosso, ao pintarmos o quadro de acordo com o nosso umbigo, sem aceitar que o querer que é nosso é extemporâneo. Que um sonho seja legítimo e essencial não quer dizer que não possa ser precoce para o horário da alma, cuja educação se faz pela persistência e pela paciência. Haveria muito mais a dizer, mas hoje a noite já vai longa...
 
 

 
 

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

"the wonder of stevie"


tantas memórias traz o som do stevie para esta menina que foi menina nos 80's. 
 
 
 

Dar amor sem dar ouvidos

Hoje é dia de resoluções, inícios, fraturas, reinícios e reequações. Algo me percorre para concretizar, definir, regenerar e recuperar. A mente está implacável em relação a conclusões pouco edificantes e o coração quer-se ao largo de sufocos causados por interpretações superficiais. Bendita ausência de paciência que tanto ganho energético trazes! Há intolerâncias cirúrgicas fundamentais, que podem ser saudáveis: não reservar espaço interno para más vibrações, mesmo tendo compaixão e compreensão por algumas circunstâncias. Dar amor sem dar ouvidos.
 
No ginásio da alma, há dias em que não se consegue o fitness espiritual que se busca, mas hoje quero registar esta concessão. E é concessão que se impõe que diga, na medida em que há momentos que sei que me são permitidos viver; não se trata de meros estados que se alcançaram após uma qualquer maratona e meia. É isso e infinitamente mais do que isso. Não basta calçar sapatilhas e vestir uns calçõezinhos à alma. Há infusões que vêm de cima. Infinitamente obrigada a Deus por estas horas de respiração.

a consciência

Especificaria mais algumas subquestões desta questão, mas hoje prefiro guardá-las no bolso, com a intimidade que a fé, muitas vezes, pede. Ainda assim, deixo esta sugestão:

sobremesa: cumplicidade


Belém, maio de 2013

 
nunca se risca.
nunca me canso.

bacyllus timoratus

 
 
este texto, reporta-se ao mês de setembro de 2007. este gatinho partiu em 2010, com uns invejáveis 20 anos. foi um senhor siamês. recuperei o desabafo do baú, por ver como me continua a afligir que o medo seja um motor. a parte interessante é que acho que percebo melhor a dinâmica do medo, à distância dos seis anos que me separam da redação do texto que figura abaixo. o medo, bem digerido e alquimizado, pode transformar-se em amor. é tramado o processo, mas é um cinzel. 
 
não ter medo de ter medo destrona o medo.
 
enfim... pode ser que daqui por mais seis anos consiga escrever novamente sobre o assunto.
agora, façamos uma viagem ao ano da graça de 2007.
 
 
se aqui vim foi pelo que se passou no veterinário, reproduzível em qualquer cenário: com ou sem pêlo.
 
quem tivesse visto o gato, prostrado, de olhar mortiço, com o focinho rombo, a cambalear quando se tentava levantar, sentiria o contraste à entrada para a consulta, quando este recuperou o olhar atento, o porte de felino vigoroso, pronto a atacar. é que o medo é um motor que não é do nosso tamanho, é uma potência elevada a nós mais qualquer coisa. é pavorosamente forte.
 
neste caso, demito-me de digressões sobre a imaginação de um gato. no entanto, era óbvio que o bicho estava tomado pelo medo daquele espaço: da bata verde, do inox desinfectado. apesar da falta de forças, não parou de rosnar - trata-se de um gato, mas este rosna, é o verbo mais fiel - animado pelo arrepio de ali estar. o medo é um motor.
 
naquele instante, em que a veterinária o auscultava, sob rosnares e tentativas de arranhadela, com uma luva quase de falcão, lembrei-me, por oposição, de contrastes de estados movidos pelo amor. outras metamorfoses. cheguei a não ouvir completamente como dosear a medicação a ser feita. porque o medo é um motor. de repente, não me conformava com o facto de que o medo pudesse ser um motor. já o sabia. quem não sabe? quem nunca lhe fez reverência? mas aquele olhar felino espelhava a vibração do temor em bruto, de modo visceral, era um recorte faiscante de agressividade no focinho.
 
procurei dentro de mim momentos em que o medo tivesse sido um motor, enquanto continuava a olhar o ar assustado, mas pujante, do animal. o medo é um motor. não queria. não gostava de encontrar momentos de metamorfose por causa do medo.
não queria. não quero que o medo seja um motor.
 
desculpe, o que dizia sobre este comprimido amarelo? toma meio por dia? posso misturar com comida?
 
(à boleia de Almada Negreiros, não para o Dantas, mas para o medo:
 
o medo "nu é horroroso!"
o medo "usa ceroulas de malha!")
 
exacto, vou escrever aqui. não deixe esta carteirinha acabar, venha cá buscar outra durante a próxima semana. vai ver que logo à noite ele já arrebitou. obrigada por avisar. chegam aqui donos com autênticas feras e não dizem nada, depois... andam os bichos por aqui aos pinotes...
 
a luva de falcão era bonita.
a veterinária foi arrumá-la a um canto e fechou a porta.

atual toque de telemóvel


autor desconhecido

teometria

enquanto lavava a cabeça, a ideia dissolveu-se no amaciador e escorregou-me pelo cabelo. pude sentir muito bem o espaço que a nuca ocupava através da polpa dos dedos na textura do couro cabeludo, como se se formasse um segmento com as duas mãos para medir qualquer coisa.
 
se Deus fosse linearmente apreensível, seria assim: delimitado e delimitável, uma nuca com cabelo, da qual se assegura a higiene, sustentável por duas mãos e um creme amaciador. entender tudo seria uma pena. tudo se resumiria a higiene e manutenção. ah... inês, inês, inês! vamos lá achar piada à dimensão ilimitada da dúvida e aceitar a pequenez da mente. e com o calor que está, seca tudo ao natural. vou agora ligar o secador e acordar os vizinhos...

vizinhanças antigas

Lisboa, 13 de junho de 2007

já percebi que eu e o vizinho da frente escolhemos a mesma hora para fumar um cigarro à janela. do meu lado, é a da cozinha. a essa altura do dia, já estou sem lentes e, nesse momento concreto, não admito presenças de corpos de óculos na cara. percebo apenas uma presença que está de manga caviada, mas não lhe conheço o rosto. sei que há ali uma combustão na ponta vermelha do cigarro. a singularidade do rosto do homem mistura-se com a percepção que tenho do fumo. são uns cinco minutos de recolhimento, em que uma definição corporal humana nítida seria muito intrusiva. na rua, não o identifico. teriam os impressionistas buscado aquela inspiração de enevoado colorido nalgum grau de miopia? separa-nos a rua, mas o lampião que ilumina aquela fatia de passeio é comum. o topo da lâmpada, com uma cobertura metálica, é a plataforma de eleição dos pombos para os seus rituais de acasalamento.

sob

eram maçãs a voar, sem que ninguém necessitasse de se desviar ou condicionar a marcha, porque tudo parecia fazer parte de um sistema. apanhá-las e morder-lhes o segredo até ao caroço é que era impossível. e elas estavam ali a pairar sobre a a cidade. visíveis, tangíveis a um esticar de braço, mas não apreensíveis. todos caminhavam sob o seu nível e ninguém se lembrava de as ter semeado para que pendessem sobre as cabeças. era assim. desde o início.

calçada portuguesa

Lisboa, 21 de junho de 2007

encosta-se sempre com uma disciplina de expediente ao mesmo lampião. olha de lado, sem encarar, e baixa a cara, para a voltar a erguer de encontro ao edifício da frente. terá crianças para alimentar? tenho um amigo que me diz ser intuível quando são reféns da situação ou quando nem tanto. eu não consigo, nem sequer tento apurar nada. o certo é que aquela presença não me deixa indiferente. não a encaro fixamente, por achar que a vou constranger, mas é inevitável perceber-lhe alguns movimentos rápidos, ao passar. há uns dias, foi precisamente por baixar os olhos que detectei na sombra do passeio que virou a cabeça. questionei-me sobre o que pensou, se realmente olhou para mim, não para mim, concreta e individualmente concebida, mas para a imagem de outra mulher que desce o seu dia de trabalho por aquela rua, rumo a casa. quem por ali passa, ao fim da tarde, encontra-a com uma regularidade de porte, local e hora geometricamente conjugados, tal como a precisão dos cubos brancos de calçada portuguesa. infalível. a rua vai sendo calcetada pelos passos dos que voltam do trabalho ou da escola; aqueles cujo corpo foi veículo, interface de afeto, talvez, mas não superfície de aluguer. é possível que por essa hora ela tenha apenas acabado de chegar.

a espera de deixar de ser espera

a intenção escala os elos da coluna
irradia para as mãos
que a sustêm
à espera de não mais serem espera
e serem instrumento.

porquê?

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

a primeira transição da horizontal do sono para a vertical de mais um dia é muito dura, mas o gozo de já ter dois assuntos tratados por e-mail antes das 8h é muito grande. não há como a energia matinal!
 
BOM dia!

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

 
 
autoria desconhecida, com subscrição total :)

comum

Tenho-me divertido a ostentar o Alcorão, enquanto aproveito para ler os livros sagrados islâmicos durante as minhas viagens quotidianas de metro. O olhar desconfiado dos passageiros dá um gozo único às travessias. Era grande a minha ignorância relativamente à base do islamismo; não sabia que Abraão, Moisés e Jesus mereciam uma consideração tão profunda por parte dos muçulmanos. Acabei por perceber que a mensagem e a missão do islamismo é uma espécie de confirmação e complemento à pregação cristã precedente. A segmentação atual das duas culturas nunca indiciaria tal coisa, mas a verdade é que a matriz é comum. Não há como mergulhar na raiz dos fenómenos para expandir a consciência.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013


certificados inesperados

estou a tentar organizar ficheiros mentais das memórias de férias. chego a um ponto de grande "loading" tuga. nunca me considerei uma patriota fervorosa, sempre mantive uma portugalidade moderada. contudo, as saudades que senti de falar português, após uma semana fora do retângulo, mostraram-me quão piegas posso ficar só por poder por poder ouvi-lo, por poder articular um simples "cafezinho", mesmo sendo grande o prazer que sinto em falar inglês. com este certificado de maternidade tão íntimo não contava.